Notícias

Brasil encerra ano com empate insosso e repete roteiro de oscilações na última Data Fifa

19/11/2025

Após vitória sólida sobre Senegal, Seleção tropeçou diante da Tunísia e expõe novamente falta de consistência, protagonismo e poder de reação




A Seleção Brasileira fechou sua última Data Fifa do ano com o mesmo contraste que marcou a era recente de Ancelotti: um jogo convincente, seguido por outro que reacende todas as dúvidas. Depois de vencer Senegal por 2 a 0, no sábado (15/11), no Emirates Stadium, em Londres, o Brasil empatou em 1 a 1 com a Tunísia nesta terça-feira (18/11), em Lille, e deixou no ar a sensação de que nem mesmo um dos treinadores mais vitoriosos do futebol mundial conseguiu, até agora, evitar as quedas bruscas de rendimento que têm sido a marca deste ciclo.


O amistoso na Decathlon Arena começou com mudanças na escalação: Bento, Wesley e Caio Henrique entraram nos lugares de Ederson, Gabriel Magalhães e Alex Sandro. A Seleção criou suas primeiras chances logo no início, com Estêvão e Rodrygo, mas acabou punida aos 23 minutos, quando Wesley perdeu a bola no meio-campo e Mastouri marcou para os tunisianos. O empate saiu nos acréscimos do primeiro tempo, após pênalti marcado por toque de mão de Bronn. Estêvão cobrou e deixou tudo igual.


No segundo tempo, Ancelotti promoveu novas trocas. Danilo, Vitor Roque, Fabrício Bruno, Paquetá, Fabinho e Luiz Henrique entraram. O Brasil, porém, esbarrou em finalizações ruins, pouca efetividade e um pênalti desperdiçado por Paquetá aos 31 minutos. A Tunísia, empurrada por um público numeroso de imigrantes no norte da França, tratou o amistoso como um duelo decisivo, pressionou a saída de bola e dificultou o ritmo brasileiro até o fim.


Entre Senegal e Tunísia, o velho roteiro reaparece


Três dias antes, o cenário havia sido outro. Diante de Senegal, em Londres, Ancelotti colocou o que considera sua base titular, com Militão improvisado na direita e Estêvão novamente decisivo. O jovem atacante abriu o placar aos 27 minutos, aproveitando sobra de Casemiro, e o volante ampliou pouco depois em jogada ensaiada de bola parada. A atuação segura encerrou uma invencibilidade de 26 jogos dos senegaleses e deu a impressão de que a Seleção tinha encontrado um rumo claro para 2026. A impressão, no entanto, durou menos de 72 horas.


Uma Seleção que empolga num dia e quebra recordes negativos no seguinte


O padrão recente se repetiu: quando o time parece engrenar, a queda vem logo depois e, na maioria das vezes, com tintas históricas. Foi assim nos amistosos anteriores: goleada convincente contra a Coreia do Sul, seguida da primeira derrota da história para o Japão; atuação sólida contra Senegal, seguida de uma partida pobre contra uma Tunísia que nem entre as cinco principais seleções africanas do momento está.


E não houve ambiente hostil como justificativa. Apesar da enorme presença de torcedores tunisianos em Lille, que criaram atmosfera de jogo decisivo, o teste real não esteve na pressão do estádio, mas na incapacidade da Seleção de sustentar padrão competitivo diante de adversários que impõem intensidade acima do esperado para um amistoso.


Protagonistas que não protagonizam


Alguns pontos individuais reforçam o problema coletivo. A camisa 10 continua sem um dono confiável: Rodrygo, apesar da qualidade, não tem sustentado desempenho que justifique ser o cérebro ou o líder técnico da equipe. Vini Jr., por sua vez, segue longe do jogador que brilha no Real Madrid. Cisca, tenta, sofre faltas, mas finaliza mal e decide pouco. Hoje, carrega mais o status de estrela do que o protagonismo que dele se espera.


Em contraste, Estêvão volta a ser o nome mais promissor da equipe. Aos 18 anos, marcou contra Senegal e converteu o pênalti diante da Tunísia, sendo o único ponto de luz constante na Data Fifa. O risco agora é outro: o ambiente instável da Seleção, em vez de ajudar na lapidação do talento, pode acelerar uma cobrança que costuma desgastar jovens antes da hora.

Carências que persistem


A Seleção continua a colecionar chutes de fora da área sem direção, cruzamentos aleatórios e decisões mal executadas. Falta um batedor confiável, falta um finalizador, falta, sobretudo, alguém que resolva. Vitor Roque mostrou faro e esperteza ao cavar um pênalti — mérito que deve render mais oportunidades —, mas a cobrança desperdiçada por Paquetá reforçou o cenário: mesmo os que ganham minutos preciosos não conseguem transformar chance em afirmação.


Um ano que termina com mais perguntas do que respostas


O Brasil poderia encerrar 2025 com uma atuação convincente, aproveitando adversários acessíveis e um técnico de calibre máximo. Mas bastaram 90 minutos de pressão tunisiana (pressão de amistoso, não de Copa do Mundo) para o time voltar a oscilar e terminar o ano sem vencer um rival de menor expressão.

Se o grupo não consegue sustentar intensidade e confiança contra uma equipe de porte médio na África, o risco de não chegar às quartas de final em 2026 deixa de ser hipótese pessimista e vira alerta concreto.



VEJA MAIS NOTÍCIAS