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13/12/2025
Um colaborador de uma empresa terceirizada da Enel foi conduzido à delegacia na quinta-feira (11/12) depois de admitir que cobrou R$ 2,5 mil para restabelecer a energia elétrica de um imóvel na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo. A abordagem foi feita pelo subprefeito da região, Rafael Minatogawa. As informações são do g1.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) confirmou que o homem foi autuado em flagrante por corrupção passiva. O episódio ocorreu em meio ao caos provocado por danos na rede após ventos intensos que atingiram a capital desde quarta-feira (10/12). Moradores e comerciantes relatam permanecer mais de 24 horas sem luz.
Segundo Minatogawa, tudo começou após uma denúncia feita por um comerciante. O subprefeito foi ao endereço indicado, encontrou o funcionário e, diante da confirmação da cobrança indevida, deu voz de prisão.
“Recebemos a denúncia de um comerciante, fomos apurar e o funcionário confirmou tudo, e gravamos. Eu aguardei a Civil e dei voz de prisão no ato”, afirmou o subprefeito ao g1.
A região enfrenta apagões constantes desde o temporal, e parte dos comerciantes registra prejuízos. Entre eles está o restaurante africano Manden Baobá, cujo vídeo de apelo de uma das sócias viralizou nas redes.
O áudio
O g1 divulgou, com exclusividade, um áudio gravado pelo subprefeito durante a abordagem. Nele, o servidor terceirizado, identificado como Alex Rodrigues Nogueira, assume que realizou um “bico” e menciona valores e a cobrança ao comerciante. Veja trechos:
— Subprefeito Rafael Minatogawa: “Trabalho aqui na Sena Madureira. Me falaram que tinha que acertar alguma coisa. O que é, amigo?”
— Funcionário Alex: “Cara, eu tava trabalhando lá e não sei o que tá falado. Meu trampo era aqui e ele [comerciante] colocou que era minha obrigação fazer lá. Mas tava desligado a energia. Tava desligado e meu trampo era aqui. Peguei e falei: ‘Meu, ó’, eu passearia por tanto [valor em dinheiro]. Ele falou: ‘Não, pode fazer’. Aí eu fui lá e fiz. Aí ele me falou: ‘Ó, esse serviço aqui que era a obrigação do senhor fazer’.”
— Subprefeito Rafael Minatogawa: “Mas quanto que tinha que pagar?”
— Funcionário Alex: “Tinha falado pra ele ali no conector, era 2,5 [mil].”
— Subprefeito Rafael Minatogawa: “Dois e meio pra religar o conector?”
— Funcionário Alex: “Só que aí eu fui lá e falei: ‘Mano, deu isso aí’. Eu falei: ‘Vou buscar por um número e ia falar pra ele’. Mas ele falou essa merda pra mim aí. Eu até falei pro técnico de segurança ali, pro meu técnico. Falei: ‘Mano, eu fiz um barato ali, assim, assim, aqui, ó’. Vou deixar o cara do jeito que tava. Ele veio aqui e começou a tirar foto de nós aqui [….] Então eu vou desligar ali, cara.”
— Subprefeito Rafael Minatogawa: “Você vai voltar a desligar lá? Mas por quê?”
— Funcionário Alex: “Lá não era meu serviço, tem que ver o que eu tô falando. Eu tive que fazer tipo um bico lá.”
— Subprefeito Rafael Minatogawa: “Entendi. Aí cobraram 1.500?”
— Funcionário Alex: “Foi um bico que eu fui fazendo, não era meu serviço lá. Meu serviço era aqui, ó. A nota que eu tava era aqui, ó. Tá vendo? Minha nota era aqui”.
Um comerciante também entregou ao subprefeito prints que mostram o funcionário enviando uma chave PIX para receber o valor referente à religação.
Enel se manifesta
Inicialmente, a concessionária não quis comentar a atuação do funcionário. Posteriormente, informou que o homem trabalhava para uma empresa parceira e reiterou que:
“Alerta que os serviços de atendimento a emergências, como reparos na rede da distribuidora para restabelecimento de energia, não estão sujeitos a cobrança individual ao cliente”.
A companhia também reforçou que qualquer pedido de pagamento para esse tipo de serviço não é permitido.
O caso foi registrado no 16º Distrito Policial.
Situação semelhante em Diadema
Denúncias parecidas surgiram em Diadema. Moradores chamaram a Polícia Militar ao suspeitar que funcionários terceirizados estariam cobrando para religar a energia.
A SSP informou que o caso está sendo registrado no 3º DP da cidade.
Sem previsão de retorno da energia
A Enel comunicou que ainda não há previsão para normalizar o fornecimento de energia em milhares de imóveis na capital e na região metropolitana. A empresa afirma que, em diversos pontos, será necessário reconstruir trechos inteiros da rede, incluindo substituição de postes e transformadores.
Na tarde desta quinta, mais de 1,2 milhão de clientes continuavam no escuro.
Segundo a concessionária, o temporal foi provocado por um “ciclone extratropical” que gerou rajadas de até 98 km/h.
Comércio prejudicado
Em meio à falta de luz, diversos estabelecimentos da Vila Mariana e da Vila Clementino permanecem fechados. Restaurantes, lavanderias, salões de beleza e até farmácias recorreram a geradores para tentar manter algum atendimento.
A sócia do Manden Baobá, Laila Santos, relata perdas desde a véspera.
No vídeo que viralizou, ela afirma:
“Tem luz na esquina, mas para cá, não. Eu peço encarecidamente que a gente consiga compartilhar esse vídeo para que chegue às autoridades e que a gente consiga resolver isso o mais rápido possível, porque a conta de luz já chegou, mas a energia, nada. E aí, Enel?”
Ela conta que perdeu mercadorias e uma grande reserva feita por uma ONG para confraternização.
“Não estou conseguindo abrir o restaurante. Perdemos clientes, essa reserva grande. Abri oito chamados na Enel e nada de ver caminhão da empresa pelo bairro. Somos em quatro pessoas aqui e não conseguimos abrir”, disse ao g1.







